Por Gisele Brito gisele.brito@folhauniversal.com.br ![]() 1 – O que significa o FIB? É uma das metodologias de avaliação de qualidade de vida. No Butão (país pioneiro na implantação do FIB), fizeram pesquisas para saber o que era mais importante para a população. Descobriram que a parte estética era muito importante, que uma cidade bonita fazia bem. Eles viram que era essencial o sentimento de segurança. Perceberam que era importantíssimo estar perto de outras pessoas, conversar. Essas vontades diagnosticadas foram transformadas em nove eixos: bem-estar psicológico, meio ambiente, saúde, educação, cultura, padrão de vida, uso do tempo, vitalidade comunitária e a boa governança. 2 – E como isso é posto em prática? Uma vez que essas necessidades foram identificadas, elas foram levadas ao Ministério do Planejamento, que vai orientar os financiamentos do governo em função delas, ou seja, se transformaram em atividades de governo: melhorias no transporte, construção de espaços urbanos de lazer, entre outros. 3 – Mas ainda é um índice que mede a produtividade econômica, como o Produto Interno Bruto? O FIB é um jogo de palavras, mas não uma brincadeira. É um índice econômico, mas não simplesmente para que as empresas possam vender mais caro. É economia a serviço das pessoas, e não o contrário. 4 – Por que avaliar o desenvolvimento do País usando o PIB gera distorções? O fato é que o PIB só mede a aceleração econômica e não leva em consideração o que a gente quer. A população quer uma vida com saúde, segurança, ter tempo para a família. Quer sociabilidade, poder encontrar, conversar com as pessoas. A ideia não é barrar o crescimento, mas ir na direção certa para atender esses desejos da população. 5 – E o mundo está indo para a direção certa? O mundo vai mal. O PIB não só não aponta para a qualidade de vida como também não conta os custos. Se você está indo na direção errada, não adianta ir mais rápido. 6 – E o Brasil ? Nós temos um atraso social e ambiental que é trágico. Nós quase aniquilamos a Mata Atlântica e a Amazônia. O ritmo de destruição baixou de 28 mil quilômetros ao ano para 7 mil quilômetros. Mas o desastre continua. Mas você diminuir por quatro o ritmo desse desmatamento, enfrentar aqueles jagunços armados representa muito. Claramente há uma mudança. 7 – O senhor também fala muito sobre as oportunidades da crise. Quais são elas? O mundo se organizou nos últimos 30 anos no “oba-oba” de mais carros, de produtos que vão devolver aos seus cabelos o brilho natural, de consumir sem pensar que, na verdade, nós estamos tirando recursos naturais que são limitados. De certa maneira a crise financeira gerou uma “pancada” nas pessoas. Nós temos o aquecimento global, que é real. E, de repente, o mundo para e olha para a conferência sobre o clima das Nações Unidas em Copenhague. Pela primeira vez as pessoas começam a levar a sério o problema. Hoje qualquer revista tem dezenas de artigos dizendo que as pessoas podem consumir de maneira mais consciente, ou tem anúncios de diversas empresas que afirmam ser sustentáveis. De certa maneira estamos aproveitando as crises médias que temos vivido, como a crise financeira do ano passado e a crise ambiental, para começar a agir sobre essas coisas. 8 – Então são várias crises, não apenas a econômica? Tivemos a crise financeira, a crise ambiental e em breve teremos a crise alimentar. O aquecimento global está diminuindo a produtividade agrícola, o que aumenta a fome. Um milhão de pessoas morrendo de fome não é crise? De aids já morreram mais de 25 milhões porque as indústrias farmacêuticas não produzem remédios para elas. Estamos deixando 10 milhões de crianças morrerem por causas ridículas, 1,4 milhão morre porque não tem água limpa. Nós temos uma convergência de processos críticos. 9 – Uma das coisas que mais contribuíram para a recuperação econômica do País durante a crise foi o consumo de bens como carros, uma indústria que gera emprego e movimenta vários setores, mas produz ônus para o meio ambiente. Como podemos nos desenvolver sem gerar esse ônus? As pessoas continuam apoiando o PIB até hoje porque o que as move, na verdade, é a angústia do desemprego. Então, se o PIB está crescendo e gerando emprego, tanto faz. Isso se relaciona com o eixo que envolve o que se chama de “green jobs”, os empregos verdes. 10 – Como isso funciona? A Coreia do Sul está investindo US$ 36 bilhões (R$ 65,5 bilhões) em transporte público e alternativas energéticas. Isso gera 960 mil empregos, o que melhora os índices sociais, aumenta a demanda e portanto reduz o impacto da crise. Ao mesmo tempo, o programa obriga o desenvolvimento de novas tecnologias, que diminuem o número de carros nas ruas e melhoram o clima. |
ENTREVISTAS: Crescer e ser feliz
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