Por Guilherme Bryan guilherme.bryan@folhauniversal.com.br Como um aspirador de pó que passa sugando carros, casas e árvores, o tornado é considerado um dos fenômenos naturais mais devastadores do planeta. E o que parecia ser uma ameaça tipicamente norte-americana – pois é na planície central dos Estados Unidos onde há o maior índice de tornados no mundo – está mais perto de nós do que se imaginava. Segundo estimativa do Laboratório Nacional de Tempestades Severas (NSSL), dos Estados Unidos, o Brasil possui a segunda maior área de incidência desse fenômeno meteorológico na região formada pelos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e oeste do Paraná, junto com os países Paraguai, Uruguai e Argentina. “Boa parte dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul também pode ser incluída nessa área, que talvez empate com Bangladesh e o leste da Índia, na Ásia. Esses dois locais e a planície central norte-americana possuem em comum a proximidade de cadeias montanhosas e o encontro de massas de ar muito diferentes – no caso do Brasil, a massa de ar frio vinda da Patagônia com ventos tropicais formados na Amazônia”, explica Ernani Nascimento, professor de meteorologia da Universidade Federal de Santa Maria (RS). No mês passado, foram registrados, pelo serviço meteorológico MetSul, sete tornados no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, três deles no dia 7 de setembro, com ventos que chegaram a 200 quilômetros por hora – considerados de nível 2 em uma escala que varia de 1 a 5. No município de Guaraciaba (SC), quatro pessoas morreram. “Foi uma noite atormentada e triste. Eu e meu filho Junior, de 19 anos, estávamos dormindo e, quando percebemos, parecia que o mundo vinha abaixo. Foi algo inesperado, muito rápido e não imaginávamos que havia destruído tanto a cidade”, descreve Anita da Silva, de 56 anos, que perdeu parte do telhado da casa. Segundo o Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), até o ano 2000, em média, apenas um tornado era registrado por ano no Brasil. Porém, desde então, foram contabilizados de quatro a cinco casos anuais, chegando a seis em 2005. “O crescimento das cidades pode ter deixado os danos provocados pelos tornados mais evidentes. Porém, as mudanças climáticas possivelmente os tornaram mais frequentes”, diz Ana Ávila, diretora do Cepagri. “O certo é que não estamos livres desse tipo de fenômeno e que, portanto, precisamos investir em equipamentos meteorológicos e na conscientização da população”, alerta Nascimento. Para ele, a Região Sul do País possui metade dos dez radares que necessitaria para produzir indicadores confiáveis a respeito das ocorrências, e apenas um deles possui a tecnologia dopler, que eleva a precisão de localização dos pontos onde há chances de formação de tornados. Outro problema destacado por Ana são as moradias, principalmente nas comunidades carentes, que não estão preparadas para esse tipo de fenômeno, pois são facilmente carregadas pelos ventos fortes. Há cerca de 3 anos, passou a haver uma maior preocupação em se registrar esse fenômeno extremo no Brasil. Para Anderson Nedel, meteorologista do Núcleo de Pesquisa e Aplicação de Geotecnologias em Desastres Naturais e Eventos Extremos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), porém, isso não basta. “Deveriam ser privilegiados fotos aéreas e sobrevoos nas áreas afetadas, para se observar o tamanho dos estragos provocados e as características deixadas no solo, como o formato circular que caracteriza os tornados, mais frequentes em anos do fenômeno El Niño, como 2009”, completa. |
Natureza em fúria
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