ENTREVISTAS: JOSÉ ROBERTO GUIMARÃES - Caçador de medalhas




Por Guilherme Bryan
guilherme.bryan@folhauniversal.com.br


O técnico de vôlei José Roberto Guimarães, de 54 anos, é um dos poucos do mundo que já venceram duas Olimpíadas. Após atuar em equipes do Brasil e da Itália como jogador, ele conquistou a primeira vitória, em 1992, em Barcelona, na Espanha, como treinador da seleção brasileira masculina, que deu ao País a primeira medalha de ouro em esportes coletivos. A segunda conquista foi em 2008, em Pequim, na China, com a seleção feminina de vôlei. Sem se acomodar, o treinador já pensa nos próximos Jogos Olímpicos, que serão realizados em Londres (Inglaterra), em 2012, e que serão transmitidos com exclusividade pela “Rede Record”.

1 – Como você analisa o atual momento da seleção feminina de vôlei?
É um momento delicado, porque estão entrando novas jogadoras, principalmente em posições chaves. Esse é o caso do levantamento, onde tínhamos a Fofão, que foi uma das melhores levantadoras do mundo. Temos jogadoras talentosas, mas que precisam de tempo para treinar e jogar competições importantes. O grupo, no entanto, mantém a mesma base da Olimpíada passada.

2 – As conquistas deste ano incentivam ou o favoritismo pode causar uma acomodação da equipe?
Nos últimos 4 anos, aprendemos que, mesmo com um grande time, tudo pode acontecer. Participar de competições dá a possibilidade de jogar com as grandes seleções do mundo. Lógico que temos que tentar ganhar, mas precisaremos passar por todas as dificuldades, principalmente na Olimpíada de Londres.

3 – Qual conquista foi a mais
difícil, a da Olimpíada de 1992 ou a de 2008?
Diferente da conquista de 1992, onde não éramos os favoritos, em 2008, sabíamos que poderíamos ganhar. Nós vínhamos de uma situação difícil, que foi a Olimpíada de Atenas (Grécia), e estávamos fechando um ciclo de sucesso. Por isso, foi muito emocionante. A geração de 1992 aliou talento, técnica e versatilidade, e fez história.

4 – Em algum momento, vocês temeram a repetição do que havia acontecido em Atenas, quando o Brasil perdeu para a Rússia de virada, por 3 sets a 2, na semifinal?
Para Pequim, conseguimos montar um grupo excepcional e treinar como devíamos durante 4 anos, adquirindo experiência em mais ou menos 140 jogos internacionais. Por isso, ganhamos. Foi completamente diferente de Atenas, quando, cerca de 1 ano antes, pegamos o time de última hora, com jogadoras pedindo dispensa e com um tempo muito pequeno para trabalhar.

5 – Quais são as principais diferenças entre treinar homens e mulheres?
É muito mais fácil treinar times masculinos, pois os problemas são resolvidos de modo direto e mais rápido. Mas, hoje, eu me sinto mais integrado e tranquilo treinando times femininos, onde é preciso ter uma sensibilidade maior, dialogar e escutar mais, entender um pouco como funciona o organismo feminino e tomar diversos cuidados. O técnico do vôlei feminino precisa ser muito sensível e observador.

6 – Como você avalia a atual situação do voleibol brasileiro?
De alguns anos para cá, o vôlei virou o segundo esporte nacional. É um dos mais praticados no nosso País e tem um grande respeito do povo brasileiro. Há muita gente trabalhando para continuar entre os melhores do mundo. Mas não dá para comparar com o futebol, que no Brasil é visto quase como uma religião.

7 – Você pretende realizar algum trabalho para incentivar a prática do vôlei em escolas?
A base dos clubes sempre foi uma paixão e temos que ter um carinho muito grande por ela. Agora, houve uma perda, principalmente depois que decidiram que Educação Física não era obrigatória nas escolas. Mas acredito que as coisas no Brasil estão mudando e, quem sabe, no futuro, tenhamos um maior investimento, exatamente nas escolas e na base dos clubes, de onde vieram os grandes craques. Para isso, é preciso que o Governo ajude com incentivo fiscal.

8 – O Brasil tem hoje condições de sediar os Jogos Olímpicos de 2016?
Temos condições como povo, do qual me orgulho muito de como reage quando é solicitado para esses grandes eventos. Como organização, acho que o País daria um show. Em termos de infraestrutura, teríamos tempo hábil para fazer tudo o que é necessário para realizar uma grande Olimpíada. Mas, o que me preocupa muito é o que fica depois, ou seja, um débito muito grande.

9 – De que modo a experiência de treinador pode ajudar as pessoas em outras atividades profissionais?
De um técnico de vôlei ao presidente de uma multinacional, você sempre trabalha com pessoas. Lógico que é preciso ter conhecimentos técnicos e estar antenado com o mundo, mas também é necessário saber liderar, conhecer as estratégias para que a equipe produza mais. Portanto, a base de tudo é o relacionamento e as estratégias
utilizadas para vencer.

10 – Para um treinador tão vitorioso, o que falta ser conquistado?
Sempre falta alguma coisa: um mundial feminino, outra Olimpíada. A partir do momento em que você está num ciclo em que aparecem jogadoras novas, há uma motivação maior. Não é porque se ganhou uma competição que se fica satisfeito. É preciso trabalhar duro e sem descanso, pois, em algum lugar do mundo, sempre haverá algum maluco treinando mais do que nós. Claro que tudo pode acontecer, mas esperamos manter o voleibol brasileiro entre as melhores seleções do mundo.

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